Senta que lá vem história
Antes de tudo um pouco da história do estilo. Ou da própria cerveja. A primeira coisa que você precisa saber é que nem sempre a amada flor de lúpulo esteve presente na receita da cerveja. Ela foi adicionada aproximadamente mil anos depois de Cristo, antes disso praticamente todas as cervejas eram condimentadas com um misto de grãos moídos chamados de gruit.
A popularização do uso do lúpulo na cerveja se deu por volta do ano de 1500, quando o consumo de cerveja se propagou na Inglaterra. Conforme o norte da Europa florescia, a cerveja lupulada se tornou padrão pelo sucesso não apenas pelo ótimo sabor mas também por que o lúpulo possui propriedades conservantes, capazes de retardar a multiplicação de algumas bactérias que estragam a cerveja. Isso permitia que as cervejas fortes para serem servidas à mesa permanecessem possíveis de se beber por alguns meses ao invés de apenas algumas semanas. Para mim parece bem justo.
Navegar é preciso, beber cerveja também
Durante esta época, era comum as grandes expedições sobre barcos por toda a Europa e foi aqui que o estilo India Pale Ale se popularizou.O relato da real origem do estilo varia, mas a maioria concorda que o que mais tarde ficou conhecido como IPA era uma Pale Ale preparada para expedição para a Índia no final dos anos 1700 e início dos 1800.
George Hodgson da Cervejaria Bow tornou-se bem conhecido como um exportador de IPA no início de 1800 e é o primeiro nome mencionado frequentemente com esta popularidade. Tal como acontece com todas as cervejas inglesas com uma longa história, a popularidade e a formulação do produto mudaram ao longo do tempo, o que ficou de bom mesmo é as características que este traço definiu: uma alta carga de lúpulo usada nos barris de cerveja pálida inglesa para que todo o carregamento não estragasse durante a longa viagem até as Índias.
Como identificar uma boa IPA?
Com a popularização do estilo, muito do que ela é hoje não reflete suas características iniciais. O próprio estilo já se desdobrou em inúmeras variações que vão desde a tradicional English IPA, às contemporâneas American IPA, Speciality IPA, Saison IPA, Red IPA, NEIPA e outras tantas que nem cabem na mão para contar. Se fossemos falar de cada uma delas aqui certamente tomaria muito do seu tempo e dificilmente deixariamos claro a diferença entre cada uma delas. Ok, ok, mantenhamos o foco então.
Eis o que o tradicional BJCP descreve sobre um perfeito exemplar de American IPA:
Uma American Pale Ale decididamente mais lupulada e amarga, moderadamente forte, apresentando variedades de lúpulos americanos modernos ou Novo Mundo. O equilíbrio é orientado para os lúpulos, com um perfil de fermentação limpo, final seco e limpo, com sustentação de maltes a permitir uma criativa variedade de caráteres de lúpulo destacar-se na cerveja.
Para uma cerveja corresponder a este estilo, deve-se ainda respeitar as características visuais, com coloração que pode variar de dourado médio a leve âmbar-avermelhado, com corpo límpido (embora exemplares não filtrados e que passem por dry-hopping podem ser turvas) e de aroma que conte com “um proeminente a intenso aroma de lúpulo com uma ou mais características de lúpulo americano ou do Novo Mundo” e características que lembrem “cítrica, floral, de pinho, resinosa, condimentadas, de frutas tropicais, de frutas de caroço, de berries, de melão, etc.”. Mas é só o nariz que surfa na onda? Não senhor, essas características também devem se refletir no paladar.
Habemus IPA!
Ufa, agora você já sabe um pouco mais sobre esse tradicional estilo, história e características, o que tem de mais para se saber? Nada. A notícia boa é que agora começa a parte prática da história, afinal, aprender sobre cerveja é como andar de bicicleta, ninguém aprende apenas na teoria. E não tem como recomendar início de jornada por este estilo mais prazeroso que a nossa querida Dear Paula, uma autêntica representante do estilo American India Pale Ale.
Uma cerveja de amargor médio-alto, que surpreende o paladar com intenso sabor de uma carga cavalar de lúpulos florais e aroma de frutas amarelas maduras, como manga fresca, pêssego e maracujá. De cor alaranjada e 6,6% de teor alcoólico, essa é uma nova roupagem da nossa clássica e saborosa IPA, que faz você sentir a paz do lúpulo e a felicidade do malte tomando conta do seu corpo com uma cerveja de alta drinkability.
Dear Paula representa uma mulher forte, incrível e querida, que dá o braço todo mesmo quando pedimos só a mão. Para agradecer todas as vezes que ela nos ajudou, produzimos uma cerveja forte como ela.
New Paula, dear like aways
Nossa “querida” Dear Paula é um dos xodós da Stannis. A complexidade dos lúpulos usados na receita produz uma carga extra não apenas de amargor mas de aroma e sabores que ela apresenta. Mas a pergunta que sempre temos na cabeça é: será que ela realmente é tão boa a ponto de que não seja possível melhorar? A resposta é NÃO meu caro gafanhoto, sempre dá para melhorar. Então eis aqui a nova Dear Paula. O que mudou? Senta que lá vem história (parte 2).
Um dos feedbacks que nós recebíamos das avaliações de concursos cervejeiros a cerca da Dear Paula era que ela precisava de um pouquiiiiiiinho menos de álcool, afinal, ela continha 7,0% o que a colocava no limiar de uma Imperial ou Double IPA. Aliado a isso, alguns testes foram realizados e conseguimos extrair um pouco mais de aroma no resultado final adicionando um pouco mais de lúpulos de aroma americanos que remetem muito a frutas tropicais. Ta, não foi pouco que adicionamos, foi muuuuito!
O resultado foi uma cerveja menos amarga, passou dos 70 IBU para 40 e um teor alcoólico de 6,6%. Na prática, essa redução trouxe uma cerveja com muito mais drinkability e a carga adicional de lúpulos contribuiu para uma cerveja muito mais aromática e saborosa, com notas de frutas amarelas maduras, intensa manga fresca, pêssego e maracujá, uma delícia!
Não queremos dar spoiler do que você vai encontrar nas taps e garrafas de Dear Paula daqui pra frente, mas podemos adiantar que se a Paula já era uma das mais queridas por aqui, depois desta alteração ela ficou ainda mais dear do que nunca!
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